sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Além do livro, vem aí o filme sobre Nelson Triunfo!

O ano começou realmente agitado para mim, mas por ótimas razões. Além da notícia de que consegui apoio para publicar a biografia de Nelson Triunfo, uma das felizes novidades é que, agora, também faço parte da equipe que está preparando o documentário "Triunfo", que também vai falar sobre a trajetória do pai do hip-hop brasileiro.
Sem sacanagem: este filme vai dar o que falar (podem anotar aí para me cobrarem depois), com depoimentos de grandes personalidades da cultura brasileira - não só do hip-hop!

Nos últimos dias, tenho vivido uma verdadeira maratona, conciliando as atividades do livro com as do filme - que me deixam muito otimista quanto ao resultado final. O livro deverá ficar pronto antes do documentário, mas uma coisa eu garanto: dos dois trabalhos, podem-se esperar verdadeiros DOCUMENTOS para o hip-hop brasileiro - ainda tão carente de registros que possam elucidar e perpetuar a riqueza de sua história e seus valores.
Na terça-feira, aniversário de São Paulo (25/1), entrevistei o grande mestre Sérgio Mamberti, uma das principais cabeças pensantes da cultura brasileira e atual secretário de políticas culturais do Ministério da Cultura (a foto ao lado foi clicada no dia 9/3/2009, quando Nelson Triunfo recebeu o título de Cidadão Paulistano por iniciativa do vereador Chico Macena).
Fã declarado de Nelsão, Mamberti deu um depoimento carregado de emoção, enriquecendo bastante o livro e o filme. Só tenho a agradecer a este mestre pela atenção de me receber em pleno feriado, por seu carisma fantástico e pelos minutos de sabedoria que foram compartilhados em homenagem a Nelsão.
No dia seguinte (26/1), foi a vez de entrevistar Dom Billy, um dos primeiros MCs do Brasil, integrante da primeira formação do Funk Cia e amigo pessoal de Nelsão há cerca de 30 anos. Também muito prestativo, Dom Billy falou sobre os bailes black dos anos de 1970 e 80, a ocupação de espaços públicos pela dança de rua, o início do hip-hop no Brasil e a importância de Nelsão para a cultura brasileira em geral.
Um dos pioneiros do rap, com participações nas clássicas coletâneas "Ousadia do Rap" (1987) e "O Som das Ruas" (1988), Dom Billy atualmente também está escrevendo um livro e produzindo um DVD que prometem fortalecer ainda mais a memória da cultura de rua brasileira, além de estimular a reflexão sobre a dualidade "de onde viemos/para onde vamos". Muito obrigado, Dom Billy, pela força e pelo exemplo de resistência e humildade! Tâmo junto!!!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Tristes reflexões sobre um problema recorrente

A subida da água foi muito rápida. Percebi por volta das 20h30 deste domingo (23/1), enquanto Nelson Triunfo mostrava algumas de suas muitas composições musicais e discorríamos sobre diversos assuntos, depois de um churrasco improvisado em sua casa, na região da Penha (zona leste de SP).
Por sorte, não houve perigo na casa de Nelsão, apenas o susto e o desagradável transtorno de ter a cozinha e parte da sala tomada por uma "piscininha" de pouco mais de cinco centímetros.
Para alguns vizinhos, a coisa foi muito pior: a água chegou a mais de um metro de altura, encobriu carros, estragou móveis e imobilizou moradores (foto ao lado).
É uma situação triste e revoltante ver a água invadir lares e ameaçar móveis, objetos, vidas. Triste porque é algo ínfimo se comparado aos desmoronamentos catastróficos que têm se repetido, ano após ano, em diferentes regiões do Brasil, destruindo sonhos e famílias. Revoltante porque é algo que poderia ser evitado, se o poder público e a população fizessem sua parte. Culpar a "natureza" por isso, como fazem alguns governantes, é um misto de hipocrisia, ironia, covardia, cara-de-pau e filha-da-putice!
As enchentes e as habitações em áreas de risco são problemas distintos, mas diretamente relacionados. E, sobre esta questão, vejo um conjunto de fatores que merecem reflexão:

1. Ninguém dá ao lixo a atenção que ele merece.
O poder público é conivente com o "cartel" de empresas que obtêm contratos milionários para desempenhar péssimos e inconstantes serviços de coleta e varrição, e não existe planejamento sobre a destinação adequada do lixo. Daí, formam-se estúpidos depósitos que envenenam o solo e os lençóis freáticos, boa quantidade de materiais recicláveis não é reaproveitada e parte significante deste material é abandonada em locais impróprios, como terrenos baldios e calçadas pouco movimentadas, pronta para entupir bueiros e bocas-de-lobo.

Soma-se a este problema uma grande parcela ignorante da população, que não cuida do próprio lixo e o abandona em qualquer lugar. Isso vale para todo tipo de lixo, desde as bitucas de cigarro às embalagens descartáveis e até móveis que são largados nas ruas por gente imbecil que só faz peso na Terra.


2. Não existe explicação para que seres humanos precisem habitar áreas de risco. É claro que, muitas vezes, quem opta por esses lugares não possui outra opção. De quem é a culpa? Primeiramente, da gananciosa "cultura latifundiária" que faz um pequeno grupo de famílias deter grandes extensões de terras, muitas vezes improdutivas, herança do coronelismo e de um feudalismo burro - que, ainda hoje, é respaldado pela dita "Justiça".
Um exemplo digno de reflexão: o Brasil possui extensão territorial 22,5 vezes (mais de 2.000%) maior que a do Japão, e população 50% superior. No Japão, há muitas áreas verdes, campos, parques, praças e reservas naturais, e mesmo assim ninguém precisa brigar por terra ou residir em encostas de morros ou outras áreas de risco. Como se explica que no Brasil, país de dimensões continentais, existam milhões de pessoas brigando por um pedaço de terra e outras milhões residindo sobre verdadeiras bombas-relógio? Talvez alguns deputados e senadores, que detêm latifúndios absurdamente gigantes e improdutivos, possam explicar...

3. É triste ver que certos políticos só governam para os ricos, e priorizam ações desnecessárias.
É fácil distribuir carnês de cobrança de IPTU sem nunca ter pisado numa rua como essa (clique na foto para ampliar), em que a estrutura oferecida pela administração municipal é da pior qualidade. É fácil aumentar a passagem de ônibus para absurdos R$ 3, sem nunca ter sido tratado como gado no ineficiente transporte público. Para quem tem rede de esgoto, asfalto e praça florida na porta de casa é fácil gastar o dinheiro público com festas fúteis, estroboscópios, milhões de lâmpadas natalinas, Carnaval e obras desnecessárias nos bairros nobres em que residem seus pares.


4. Quem vota sempre nos mesmos (que estão há décadas fazendo besteira seguida de besteira e ignorando as necessidades da população periférica), infelizmente, merece passar por isso tudo. Até que aprenda a votar e fiscalizar seus representantes nas diferentes esferas políticas...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Correria total: 10% de inspiração e 90% de transpiração!

Não sei quem é o autor de uma frase com a qual me identifico muito, e diz algo como: "Faça o que ama e nunca mais terá de trabalhar".
É com este pensamento que, desde o início, tenho encarado a nobre e honrosa missão de escrever a biografia de Nelson Triunfo.
Para quem não sabe ainda, a ideia deste projeto nasceu de um sonho que tive, em que vi o livro prontinho. Quando acordei, pensei: "E por que não?". Daqui a umas semanas, prometo explicar melhor este episódio, ocorrido em meados de 2009, logo que cheguei de um período de quase quatro anos no Japão - sempre, mantendo contato com o mestre Nelsão.
Nas últimas semanas, com a ótima notícia de ter conseguido apoio para viabilizar a publicação do livro, intensifiquei as pesquisas - sem exageros, elevei o ritmo de trabalho à centésima potência (por conta disso, até pedi um afastamento temporário do portal Central Hip-Hop - que segue muito bem gerido pelos meus parceiros DJ Cortecertu, Noise D, Skillz, Bruno Gil e Jéssica Balbino, entre outros guerreiros e guerreiras).
Diariamente, tenho captado entrevistas, garimpado os arquivos pessoais do próprio Nelson Triunfo e explorado todo material bibliográfico, jornalístico e audiovisual que, de alguma forma, tenha relação com sua história.
O resultado desse ritmo "frenético" (como diriam meus amigos cariocas) pode ser exemplificado na foto acima, que reúne uma pequena parte do material sobre o qual tenho me debruçado diariamente. São trabalhos acadêmicos, livros, documentários, recortes de jornal, músicas, fotografias e muitas outras peças de um quebra-cabeça importantíssimo para a cultura brasileira.
Com 10% de inspiração e 90% de transpiração, sigo montando este maravilhoso quebra-cabeça, o que é uma missão muito mais prazerosa que trabalhosa.

E vejamos como o destino é um roteiro fabulosamente bem escrito: há poucos dias, comecei a participar da produção do documentário "Triunfo", que contará a trajetória do pai do hip-hop brasileiro, fazendo justiça à importância de Nelsão.
Por contar com uma estrutura profissional muito boa, este filme injetou ainda mais ânimo no presente escriba. Em breve, poderei publicar mais informações a respeito deste documentário, que contará com depoimentos de diversas personalidades-chave da cultura brasileira.
Nos próximos dias, faremos pelo menos mais três entrevistas importantíssimas - e, à medida do possível, o "making of" dessas atividades será publicado neste blog.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As incursões de Nelsão no cinema

Poucas pessoas sabem, mas, além de dançarino, coreógrafo, arte-educador, músico e poeta, Nelson Triunfo também é ator.
A verdade é que o pai do hip-hop brasileiro é um ARTISTA na melhor concepção da palavra, o que o permite circular com singular desenvoltura por diferentes manifestações.

Um dos trabalhos que considero mais brilhantes na vida de Nelsão é sua participação no filme "A Marvada Carne", de 1985, que, na época, contou com a participação de duas jovens e (então) 'desconhecidas' atrizes: Fernanda Torres e Regina Casé. O filme, em si, é uma obra-prima pouco valorizada no cinema nacional.
E Nelsão interpretou um curupira que rouba a cena com passos de dança black - entra com um "moonwalk" e sai com um giro "a la James Brown".
Vale a pena conferir, entre o final da parte 1 e início da parte 2 (mas recomendo que quem puder assista ao filme na íntegra):






Vale lembrar que Nelson Triunfo também participou do ótimo filme "Uma Onda no Ar", de 2002, que conta a história da Rádio Favela de Belo Horizonte (MG). E, em 2007, foi à Alemanha participar da peça teatral "Na Selva das Cidades", de Bertolt Brecht, a convite do renomado diretor Frank Castorf. Em breve, discorrerei sobre essas experiências.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A essência resiste em Valmir Black Power

Nesta quinta-feira (13/1), fui à casa do sempre atencioso 'brother' Valmir Black Power, um dos poucos blacks de verdade que ainda existem/resistem.
Amante da boa música negra, com ênfase no soul e no original FUNK, ele me ajudou a entender como era a cena dos bailes black entre as décadas de 1970 e 1980, época em que Nelson Triunfo se mudou para São Paulo para tornar-se um dos principais difusores da música negra e da cultura hip-hop no Brasil.

O primeiro contato de Valmir Black Power com a cultura que revolucionou a música negra mundial ocorreu em 1977, época em que começou a frequentar os diversos bailes e shows que movimentavam a cena em São Paulo e eram organizados por equipes como Chic Show, Zimbabwe, Black Mad, Musicália e Kaskata's, entre tantas outras.
Em 1978, viu Nelson Triunfo pela primeira vez, no épico show de James Brown no ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras.

O tempo passou, a música sofreu transformações, o hip-hop surgiu e cresceu, e Valmir Black Power precisou se tornar bem menos assíduo nos bailes, em razão de compromissos profissionais e familiares. Mas, ainda hoje, sempre que pode, capricha no visual e corre para a pista de dança, com a mesma essência que o fez ostentar a cabeleira black power em pleno período de ditadura militar, a mesma paixão por James Brown e seus muitos discípulos na música, o mesmo coração e mente abertos.
Muito obrigado, Valmir Black Power, pela honra de poder ser muito bem recebido em sua casa e conhecer sua linda família, a quem estendo meus agradecimentos. Muito respeito mesmo à sua trajetória "black" e à sua pessoa!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Joul, uma "cria" das oficinas ministradas por Nelsão

Nesta quinta-feira (6/1) passei horas "importunando" o MC e b.boy Joul, do grupo Matéria Rima e também integrante da Funk & Cia (de Nelson Triunfo). Colhi muitas informações, fotos, vídeos e uma entrevista com este grande hip-hopper, de quem tenho a honra de ser fã e amigo.
Nascido em Jaboatão dos Guararapes (PE), terra natal dos repentistas Caju e Castanha, Joul possui uma história de vida marcada pela superação - e credita muito disso a Nelson Triunfo, que considera um segundo pai. "Cria" das oficinas culturais promovidas por Nelsão em Diadema (SP), Joul é hoje um multiplicador dos conceitos que aprendeu com o pai do hip-hop brasileiro.
Atualmente, Joul é um grande articulador do hip-hop como instrumento (re)educativo. Em Barueri, desenvolve o elogiável projeto "Vem Comigo Hip-Hop Arte" (clique aqui para saber mais). E é pai do MC Nicolas, de apenas 11 anos, um garoto muito talentoso que já tem brilhado muito no momento presente e nos assegura um ótimo futuro para o rap (clique aqui para ver seus vários vídeos no YouTube).
Com o grupo Matéria Rima, Joul faz um rap diferenciado, de cunho nitidamente educativo, inclusive inserindo em suas letras temas relacionados a disciplinas escolares. O ótimo jornalista e crítico musical Pedro Alexandre Sanches é fã declarado de seu trabalho - algo que, na minha opinião, é um respeitável 'atestado de qualidade' (clique aqui e aqui para ler textos dele sobre Joul e o Matéria Rima).
Selecionei um vídeo do Matéria Rima (inclusive, com performance do MC Nicolas) para compartilhar com minha meia dúzia de leitores:



A Joul e Majô, deixo aqui o meu muito obrigado pela disposição e por terem me aturado, ontem, durante várias horas. Quando a biografia de Nelson Triunfo ficar pronta, verão que foi por uma boa causa!