quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CORTESIA: um trecho do livro

Pediram-me para postar aqui um trecho do livro, para ver se sou capaz de "dar o gostinho" de ir conquistando futuros leitores. Não acho isso necessário. Acredito que o que atrai os leitores é a própria história do Nelsão, independente do autor ou da fórmula redacional.
Mesmo assim, resolvi testar a experiência e vou lançar, aqui, um trecho do livro, ainda em versão preliminar, para apresentar ao amigo que tem acompanhado este deserto blog.
Os personagens são Seu Nelson, pai de Nelson Triunfo, e o nosso protagonista, aí identificado como Nelsinho.

O período retratado é o ano de 1957, quando Nelsão tinha três anos de idade e já mostrava ter identificação com a música.
O cenário é o sítio Caldeirão, na pacata cidade de Triunfo (PE), com vasta paisagem verde e muito ar puro - ambiente privilegiado em que Nelson Triunfo nasceu e cresceu.


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"Sanfoneiro de mão cheia, que chegou a tocar com Luiz Gonzaga em rodas informais, Seu Nelson percebeu o gosto do menino pelo batuque e, como valorizava a música, resolveu incentivá-lo. A iluminação do sítio era feita à base de candeeiros, espécie de lampiões. Por isso, era grande o consumo de querosene, sobretudo o da marca Jacaré. Ao ver algumas latas vazias, o pai de Nelsinho teve a ideia de presentear o garoto com um tambor artesanal. Limpou uma lata de querosene, cortou um de seus lados com cuidado para não deixar arestas afiadas e prendeu-a em alças feitas com folhas de bananeira. À parte, lixou com muito zelo dois galhos de mameleiro, improvisando as baquetas do tamborzinho. Missão cumprida, pendurou o apetrecho no pescoço do filho e pôs-se a admirar o pequeno, feliz da vida, correndo pelos campos e batucando. Involuntariamente, o garoto fez-se ali um ancestral do Olodum.
Em etapa seguinte, o esperto Seu Nelson conseguiu unir o útil ao agradável. A partir daquele dia, suas andanças pelos campos com Nelsinho teriam trilha sonora suficiente para espantar os vários pássaros que costumavam atacar a plantação de milho e parte do pomar. Quando os espantalhos lá colocados não eram suficientes para afugentar as aves - ou já não as intimidavam mais -, lá chegava o amedrontador Nelsinho, gargalhando, correndo e tocando, de forma enérgica, seu tambor de lata de querosene Jacaré. Enquanto se divertia, dispersava para longe os insistentes saqueadores alados. Repetido quase diariamente, aquele trabalho em dupla pelos campos do sítio Caldeirão fez o orgulhoso Seu Nelson, certo dia, dividir com amigos um comentário que o pequeno Nelsinho guardaria para sempre em sua memória:
- Esse menino vai ser trabalhador! Tem três anos e já me ajuda!"


*(Trecho sujeito a mudanças até a versão definitiva)

domingo, 25 de outubro de 2009

UM TROFÉU PARA JAMES BROWN!!!

Se eu fosse marqueteiro, não postaria esta fotografia agora.
Ela é, seguramente, uma das mais importantes e impactantes na história da vida de Nelson Triunfo. Fortíssima sugestão para a capa do livro. Há quem diga que é favorita - portanto, fiquemos sempre de olho nela!

O ano era 1978, período em que a cena da black music em São Paulo era forte a ponto de trazer James Brown para um show no Brasil. O palco era o ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras, onde a equipe Chic Show (cuja faixa aparece na foto, ao fundo, do lado esquerdo) vinha organizando bailes e shows memoráveis. Outros grandes artistas internacionais de soul e funk de raiz passaram por lá, como Roger Troutman (Zapp).
Na apresentação de James Brown, Nelsão caprichou no visual e resolveu colocar uma capa. No meio do salão, pouco antes de Mr. Dynamite adentrar o palco, amigos de Nelsão resolveram erguê-lo, para oferecê-lo a James Brown, como um troféu que a música negra conquistara no Brasil.
Um troféu do mais puro orgulho negro, expresso através do visual extravagante daquele dançarino esguio com sua vasta cabeleira black e a
capa preta aberta, em gesto imponente.
Mal comecei este blog, mas lanço aqui esta que, certamente,
é uma das principais imagens da biografia do Nelsão. A imagem é de autoria do fotógrafo Penna Prearo
:




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Do Soul ao Hip-Hop

Não há nome mais adequado para a biografia do Nelsão do que esse: "Do Soul ao Hip-Hop". Simboliza/sintetiza muito bem a trajetória do pai do hip-hop no Brasil!
O nome foi adotado neste projeto que, com imagens que dizem mais do que milhares de palavras, conta um pouco da história de Nelsão, que pretendo retratar no livro.
O vídeo abaixo mostra o projeto "Do Soul ao Hip-Hop", com o qual Nelsão excursionou pelo interior de SP e contou sobre sua história.
Vale a pena conferir estas fotos históricas!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Festa de 55 anos do Nelsão

Essa é imperdível!
Dia 31/10 a Casa do Hip-Hop de Diadema faz festa para
os
55 anos de Nelson Triunfo (cujo aniversário é dia 28/10),
com diversas apresentações e atividades.

Parabéns, Nelsão!!!

(Clique na imagem abaixo para ver a programação completa)
Mais informações: http://acasadohiphop.blogspot.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Por que "Triunfo"?

Nelsão, que já foi conhecido no Rio de Janeiro como "Homem Árvore" - apelido que ganhou de Tony Tornado, no final da década de 1970, devido à sua grande cabeleira -, adotou o sobrenome Triunfo quando começou a se destacar na dança, em homenagem a sua cidade natal, no interior do Pernambuco.
Mesmo sem ter ido pessoalmente para Triunfo (ainda), pesquisei um pouco sobre essa interessante cidade, o que pode nos ajudar a entender um pouco melhor algumas características de Ne
lsão, um sujeito simples, amante da natureza e com senso crítico apurado.
Conhecida como "a Suíça do Nordeste", Triunfo possui encantadora paisagem, com cachoeiras distribuídas por imensas e silenciosas áreas verdes, que são permeadas por construções típicas, de arquitetura refinada.
Situada em um dos pontos mais altos do estado de Pernambuco, a cidade faz parte do
Sertão do Pajeú, na fronteira com a Paraíba. A 1.004 metros acima do nível do mar, integra o chamado "circuito do frio" pernambucano. O verão chega a cravar de 28ºC a 30ºC, mas, no inverno, a temperatura mínima desce a 5ºC.
Considerada o oásis da região, Triunfo possui terra muito fértil, contemplando seu povoado com a possibilidade de cultivar grande diversidade de frutas, legumes e verduras. Com solo rico e água em abundância, seus pomares e plantações conseguem ostentar um colorido único e muito especial.

A cidade também se revela peculiar no campo cultural.
À entrada da cidade, um portentoso prédio inaugurado em 19
22 se impõe até hoje: o Cine Teatro Guarany, o principal cartão-postal da cidade.

Embora seu uso nem sempre tenha tido vínculo com manifestações artísticas, seu simples surgimento na cidade, com arquitetura e proposta ousadíssimas para a época, mostra que por ali emana uma atmosfera bastante diferenciada no âmbito cultural.
No Carnaval, a população estrala chicotes nas ruas, celebrando os criativos e coloridíssimos trajes típicos dos Caretas, tradicional folia folclórica muito valorizada em Pernambuco.
A musicalidade local também é diversificada, indo de samba, frevo, coco, embolada, maracatu, baião e forró a incontáveis vertentes dessa mesma essência afronordestina, ecoando para além de vilas, becos e mangues.

Bem... por enquanto, é isso o que sei sobre Triunfo. Planejo ir até lá até os primeiros meses de 2010 para poder retratar com mais fidelidade o ambiente em que Nelsão nasceu e passou sua infância e boa parte da adolescência.

E, é claro, para ter a honra de conhecer o pai de Nelson Triunfo, o Seu Nelson, que em 2010 far
á 100 anos de idade !!!


* A respeito de Seu Nelson, prometo escrever um pouco mais em outra ocasião...




sábado, 17 de outubro de 2009

Em busca dos sonhos

Uma das passagens mais interessantes da vida de Nelsão ocorreu em 1975. Foi o momento em que ele decidiu que queria correr atrás de seu sonho de vida, de sua grande paixão.
Queria viver da dança
e resolveu mudar-se para São Paulo. Para isso, recusou um emprego que, na época, era cobiçado por muita gente em Brasília (Distrito Federal).

Quase 35 anos se passaram e Nelsão não só realizou seu sonho, como tornou-se uma forte referência quando o assunto é dançar soul, funk e break. Graças à dança, já foi duas vezes para a Alemanha, onde tem portas abertas, e roda o Brasil fazendo palestras, oficinas e apresentações.
Abaixo, segue a reprodução de uma reportagem sobre sonhos, em que Nelsão conta sua experiência (
"Revista da Hora", jornal "Agora São Paulo", 06/09/2009. Foto: André Vicente)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

De repente, surge um rap

Para conhecer um pouco da porção MC de Nelson Triunfo, com sua ímpar musicalidade afro-funk-nordestina, vale a pena conferir este improviso ao vivo dele com Baixinho do Pandeiro, feito em um evento em Campina Grande (Paraíba)

Colabore com o livro

Se você tem algum relato interessante a contar sobre Nelson Triunfo, recorda algum momento marcante junto a ele ou acha que, de alguma forma, pode colaborar com a biografia do pai do hip-hop no Brasil, escreva para biografiadenelsontriunfo@gmail.com e conte sua história.
Ajude a tornar este importante registro histórico o mais fiel possível à verdadeira trajetória de vida de Nelsão.


O hip-hop agradece!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em família: ontem, hoje e amanhã


Selecionei esta foto, tirada recentemente, no aniversário de 10 anos da Casa do Hip-Hop, em Diadema, para mostrar os herdeiros de Nelsão, uma das coisas que enchem os olhos deste biógrafo. Na foto, o pai do hip-hop brasileiro observa seu filho Andrinho, 5 anos, ao lado de seu outro filho, Jean, de 17. Nelsão é o ontem e o hoje do hip-hop, e ainda promete muito pro amanhã. Jean e Andrinho são o hoje e um mais longo ainda amanhãããããã. Assim, a saga da raiz do hip-hop vai se perpetuando...
Jean é polivalente. Canta, dança, faz beatboxing, joga basquete e mexe com produções de vídeo, entre outras atividades...
E quem ainda não conheceu Andrinho não tem ideia do pequeno gênio que é este caçula de Nelson Triunfo. Sabe, de cabeça, todas as capitais e bandeiras do mundo. Amante da natureza, conhece plantas e insetos como ninguém. Comunicativo e de raciocínio rápido, deixa adultos desconcertados com suas tiradas perspicazes. Herdeiro de sangue do mais black dos brasileiros, dança e ginga com a malandragem que muitos b.boys tarimbados não têm.

Bem... Jean e Andrinho à parte, primeiro preciso me concentrar na biografia do Nelsão, uma difícil e importante missão. Mas não duvido que, num futuro breve, Jean e Andrinho também tenham trajetórias dignas de serem registradas na história da cultura de rua brasileira.
O DNA comprova!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Prefácio virtual

Conheci o Nelsão rapidamente em 1998, em um evento em São Paulo, mas foi em Bauru, dois anos depois, que mantivemos mais contato. Ele passou uns dias por lá, cidade em que eu morava, e nesta ocasião pude conversar mais com essa lenda viva do hip-hop brasileiro. Alguém até filmou uma sessão de freestyle entre eu e ele, mas eu nunca vi essa gravação.
Passei quase quatro anos no Japão e, nesse período, o Nelsão mantinha contato pela internet. Na semana em que voltei ao Brasil, no final de março de 2009, sonhei que tinha escrito a biografia dele. Depois que acordei, pensei: "e por que não?" Telefonei pro Nelsão, propus realizar este trabalho e ele entendeu meu propósito. Selamos essa parceria da maneira mais brasileira possível, numa feijoada dominical, e só tenho a dizer que para mim é uma grande honra poder registrar uma trajetória de vida tão fascinante quanto a de Nelson Triunfo. A responsabilidade é enorme! Mas eu pronto pra missão e prometo me dedicar a ela até o limite!

O livro tem dois caminhos que se entrelaçam, e que talvez sejam um só. Vou explicar melhor. Uma proposta é registrar a biografia do Nelsão, desde seu nascimento até os inúmeros e inusitados acontecimentos que o fizeram tornar-se uma referência de resistência, negritude, protesto e evolução através da arte.
Do soul ao hip-hop, Nelsão é um marco brasileiro, sempre presente de maneira radical e sóbria, com seu estilo irreverente, uma cria do mais autêntico espírito funk, mas com brasileiríssimos trejeitos e sotaque nordestinos. Paralelamente, pretendo traçar um breve histórico desse cenário cultural alternativo, desde os bailes black dos anos 1970 até a eclosão do break na década de 1980 e os shows de rap das duas décadas seguintes. E o Nelsão foi um dos protagonistas dessa trajetória. Ou seja: não tenho como separar uma história da outra.
Mas a história do Nelsão, em si, é um exemplo que precisa ser registrado e perpetuado. Nesta fase inicial
de pesquisas e entrevistas para fazer o livro, cada vez que eu converso com o Nelsão volto para casa com mais perguntas do que respostas.
O cara tem uma personalidade fascinante e é um incrível artista, que, além de dançar como um discípulo de James Brown, já compôs mais de 200 músicas muito ecléticas e poemas que pouquíssima gente conhece - mas vai conhecer com o livro.

Além de tudo, Nelsão tem dois filhos incríveis, é uma pessoa muito simples e tem o que é mais importante e deve ter sido fundamental para alçá-lo à condição de "um dos pais" do hip-hop brasileiro: ele transmite verdade no olhar. Não é sujeito corrompível, é cabra-macho pernambucano, mas com a sensibilidade do soul. Tem o espírito revolucionário do rap, mas com a ginga do funk. E, enquanto mantém os pés no chão, está com a cabeça no universo. Ele anda descalço na grama e usa internet. Ele ama a natureza e faz sua parte plantando árvores, mesmo morando na floresta de concreto e aço que é São Paulo. Ele já cansou de peitar a polícia em nome da liberdade de poder dançar nas ruas, mas faz poesia para pássaros e abelhas em homenagem à liberdade que elas inspiram. Ele é o matuto simples de Triunfo (Pernambuco) que, depois de a Alemanha ter conhecido, em 2006, pediu para que voltasse. Ele é um camaleão da cultura alternativa e de resistência, que se manifesta de diversas formas, mas com uma única e sincera essência.

- Esse é o Nelsão Triunfo que as pessoas conhecerão com o livro: o matuto, o mano, o pai, o marido, o líder, o artista, o ativista, o b-boy, o MC e, acima de tudo, o ser humano!