quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A beleza da 'nordestinidade' no hip-hop

Nelson Triunfo sempre se orgulhou de sua origem nordestina. Pernambucano de Triunfo, pacata cidade conhecida como "oásis do sertão", preserva até hoje muitos costumes, trejeitos e o inconfundível sotaque, mesmo tendo deixado o Nordeste em 1974 (relembre AQUI nossa viagem ao Nordeste).
Desde que teve contato com os primórdios da cultura hip-hop, na década de 1980, Nelsão sempre defendeu que, no Brasil, ela poderia - e deveria - beber da riquíssima cultura brasileira. Ele mesmo se define como um "híbrido de James Brown com Luiz Gonzaga".

Durante muitos anos, sua postura foi questionada, ignorada ou ridicularizada por muitas pessoas que assimilaram e/ou copiaram o "padrão estadunidense" de hip-hop - mesmo considerando que muitos rappers dos EUA já vinham sampleando pérolas da música brasileira.
O tempo é rei. Passadas quase três décadas da chegada do hip-hop ao Brasil, hoje a cultura brasileira é uma grande fonte de inspiração, seja no samba misturado ao rap de Marcelo D2 e Rappin' Hood, seja na catira utilizada pelos goianos do Testemunha Ocular, no choro renovado do Beatchoro ou na música nordestina que se fundiu ao rap de Zé Brown (leia mais AQUI) e tantos outros.

Outro grande representante do orgulho nordestino no rap brasileiro é meu grande amigo Rapadura Xique-Chico, um "rapentista" cearense de quem já comentei neste blog (relembre AQUI).

Rapadura acaba de lançar o videoclipe da música "Norte Nordeste me veste", rodado na Bahia. Dirigido por Vras77, o vídeo fará parte do documentário "Cada Canto um Rap, Cada Rap um Canto", que está sendo produzido por ele em parceria com o rapper Renan Inquérito e a jornalista Jéssica Balbino.
Sem mais delongas, confira abaixo o videoclipe, que foge de todos os estereótipos 'yankees' e mostra que o Brasil tem muita beleza a ser revelada e transformada em poesia pelos agentes do hip-hop brasileiro:


*Bônus: veja também o videoclipe de "Desafio Zé x Léo", de Zé Brown, que também foi dirigido por Vras77 e também integrará o documentário "Cada Canto um Rap, Cada Rap um Canto":

sábado, 17 de setembro de 2011

Alienação no "supermercado" virtual

Devo muitos contatos e progressos pessoais e profissionais à internet, mas a relação "homem x máquina" e o conflito "real x virtual" são coisas que têm me despertado muitas reflexões nos últimos tempos.
Como estou profundamente empenhado em finalizar o livro e provavelmente reduzirei a frequência das postagens neste blog (conforme avisei na postagem anterior), decidi compartilhar aqui um texto que escrevi para o portal Central Hip-Hop/Bocada Forte, do qual sou colaborador há cerca de 10 anos e atual jornalista responsável.
No texto, que você pode ler clicando AQUI, reflito sobre muitas coisas relacionadas à internet.
De quebra, deixo abaixo uma música experimental muito interessante do grupo de rap Matéria Rima, sobre esta mesma temática.
Vale a pena refletir sobre a questão, se liga aí:


domingo, 4 de setembro de 2011

O livro sobre um Nelson será dedicado a outro Nelson

Desde 1988, quando tive meu primeiro contato com a cultura hip-hop, Seu Nelson a criticava sem tentar entendê-la. "Coisa de marginal", dizia, repetindo o clichê dos preconceituosos que nunca prestaram atenção na cultura de rua.
Só no ano passado, depois de 22 anos de relutância, consegui fazê-lo entender, respeitar e até apreciar a cultura hip-hop que abracei como uma segunda pele. Guardo isso como uma das maiores conquistas da minha vida!
No ano passado, MC Marechal foi à minha casa. Seu Nelson o conheceu e virou fã. Comprou uma camiseta "Um só caminho...", colocou vídeos nos 'Favoritos' de seu computador e elogiou as poesias.
Depois, conheceu o trabalho de GOG, Thaide, Rashid e outros nomes que passou a elogiar e respeitar. Em abril deste ano, quando organizei um evento de rap na Virada Cultural, ele me ajudou a buscar Zé Brown no aeroporto. Foi extremamente cortês e respeitoso com o MC-embolador, que sempre me pergunta se ele está bem. E, nos últimos dias, Seu Nelson vinha me cobrando: "E o livro sobre o Nelson Triunfo, como anda? E o filme, quando fica pronto?"...
Falo de meu pai, também de nome Nelson, que partiu para seu merecido descanso eterno na última sexta-feira (2/9). A última foto que fiz dele reflete o que quero guardar: a imagem de um brincalhão que gargalhou quando ganhou uma garrafa de guaraná Dolly no último Dia dos Pais (15/8).
Seu Nelson não teve tempo de ver o livro pronto e não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente seu xará Nelson Triunfo - de quem virou admirador de tanto me ver trabalhar em cima da biografia e do documentário.
Mas certamente vai me iluminar no restante da jornada para colocar esses trabalhos nas ruas.
Não acho que a coincidência de nomes seja um "acaso". Tenho enfrentado dificuldades para tocar o projeto do livro sobre Nelson Triunfo, mas meu maior incentivo, agora, será poder dedicá-lo a Nelson Goro Yoshinaga. Afinal, vida segue.
E, como o próprio mestre Nelson Triunfo refletiu, agora é a minha vez de "carregar o bastão". Hei de fazer jus à vida!
=====
* PS: já vinha ensaiando um aviso aos leitores deste blog e, agora, aproveito a oportunidade para frisar que vou diminuir a frequência das postagens. A causa é boa: estou chegando à fase final do livro e isso vai me exigir mais empenho, mais concentração e menos dispersão. Mas não deixarei de postar as boas notícias sobre os progressos do projeto. Espero que todos compreendam e torçam para que as coisas se encaminhem da melhor forma possível.