A subida da água foi muito rápida. Percebi por volta das 20h30 deste domingo (23/1), enquanto Nelson Triunfo mostrava algumas de suas muitas composições musicais e discorríamos sobre diversos assuntos, depois de um churrasco improvisado em sua casa, na região da Penha (zona leste de SP).
Por sorte, não houve perigo na casa de Nelsão, apenas o susto e o desagradável transtorno de ter a cozinha e parte da sala tomada por uma "piscininha" de pouco mais de cinco centímetros.
Para alguns vizinhos, a coisa foi muito pior: a água chegou a mais de um metro de altura, encobriu carros, estragou móveis e imobilizou moradores (foto ao lado).
É uma situação triste e revoltante ver a água invadir lares e ameaçar móveis, objetos, vidas. Triste porque é algo ínfimo se comparado aos desmoronamentos catastróficos que têm se repetido, ano após ano, em diferentes regiões do Brasil, destruindo sonhos e famílias. Revoltante porque é algo que poderia ser evitado, se o poder público e a população fizessem sua parte. Culpar a "natureza" por isso, como fazem alguns governantes, é um misto de hipocrisia, ironia, covardia, cara-de-pau e filha-da-putice!
As enchentes e as habitações em áreas de risco são problemas distintos, mas diretamente relacionados. E, sobre esta questão, vejo um conjunto de fatores que merecem reflexão:
1. Ninguém dá ao lixo a atenção que ele merece.
O poder público é conivente com o "cartel" de empresas que obtêm contratos milionários para desempenhar péssimos e inconstantes serviços de coleta e varrição, e não existe planejamento sobre a destinação adequada do lixo. Daí, formam-se estúpidos depósitos que envenenam o solo e os lençóis freáticos, boa quantidade de materiais recicláveis não é reaproveitada e parte significante deste material é abandonada em locais impróprios, como terrenos baldios e calçadas pouco movimentadas, pronta para entupir bueiros e bocas-de-lobo.
Soma-se a este problema uma grande parcela ignorante da população, que não cuida do próprio lixo e o abandona em qualquer lugar. Isso vale para todo tipo de lixo, desde as bitucas de cigarro às embalagens descartáveis e até móveis que são largados nas ruas por gente imbecil que só faz peso na Terra.
2. Não existe explicação para que seres humanos precisem habitar áreas de risco. É claro que, muitas vezes, quem opta por esses lugares não possui outra opção. De quem é a culpa? Primeiramente, da gananciosa "cultura latifundiária" que faz um pequeno grupo de famílias deter grandes extensões de terras, muitas vezes improdutivas, herança do coronelismo e de um feudalismo burro - que, ainda hoje, é respaldado pela dita "Justiça".
Um exemplo digno de reflexão: o Brasil possui extensão territorial 22,5 vezes (mais de 2.000%) maior que a do Japão, e população 50% superior. No Japão, há muitas áreas verdes, campos, parques, praças e reservas naturais, e mesmo assim ninguém precisa brigar por terra ou residir em encostas de morros ou outras áreas de risco. Como se explica que no Brasil, país de dimensões continentais, existam milhões de pessoas brigando por um pedaço de terra e outras milhões residindo sobre verdadeiras bombas-relógio? Talvez alguns deputados e senadores, que detêm latifúndios absurdamente gigantes e improdutivos, possam explicar...
3. É triste ver que certos políticos só governam para os ricos, e priorizam ações desnecessárias.
É fácil distribuir carnês de cobrança de IPTU sem nunca ter pisado numa rua como essa (clique na foto para ampliar), em que a estrutura oferecida pela administração municipal é da pior qualidade. É fácil aumentar a passagem de ônibus para absurdos R$ 3, sem nunca ter sido tratado como gado no ineficiente transporte público. Para quem tem rede de esgoto, asfalto e praça florida na porta de casa é fácil gastar o dinheiro público com festas fúteis, estroboscópios, milhões de lâmpadas natalinas, Carnaval e obras desnecessárias nos bairros nobres em que residem seus pares.
4. Quem vota sempre nos mesmos (que estão há décadas fazendo besteira seguida de besteira e ignorando as necessidades da população periférica), infelizmente, merece passar por isso tudo. Até que aprenda a votar e fiscalizar seus representantes nas diferentes esferas políticas...
A natureza pode ser letal, mas ela não se compara ao homem. Temos que nos reciclar, reciclar nossos hábitos e passar a compreender, que a culpada não é a natureza. E sim nós, que a desgastamos achando que nunca irão acabar nossas fontes de matéria-prima, e continuamos a consumir e desperdiçar desenfreadamente.
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