Conheci o Nelsão rapidamente em 1998, em um evento em São Paulo, mas foi em Bauru, dois anos depois, que mantivemos mais contato. Ele passou uns dias por lá, cidade em que eu morava, e nesta ocasião pude conversar mais com essa lenda viva do hip-hop brasileiro. Alguém até filmou uma sessão de freestyle entre eu e ele, mas eu nunca vi essa gravação.
Passei quase quatro anos no Japão e, nesse período, o Nelsão mantinha contato pela internet. Na semana em que voltei ao Brasil, no final de março de 2009, sonhei que tinha escrito a biografia dele. Depois que acordei, pensei: "e por que não?" Telefonei pro Nelsão, propus realizar este trabalho e ele entendeu meu propósito. Selamos essa parceria da maneira mais brasileira possível, numa feijoada dominical, e só tenho a dizer que para mim é uma grande honra poder registrar uma trajetória de vida tão fascinante quanto a de Nelson Triunfo. A responsabilidade é enorme! Mas eu tô pronto pra missão e prometo me dedicar a ela até o limite!O livro tem dois caminhos que se entrelaçam, e que talvez sejam um só. Vou explicar melhor. Uma proposta é registrar a biografia do Nelsão, desde seu nascimento até os inúmeros e inusitados acontecimentos que o fizeram tornar-se uma referência de resistência, negritude, protesto e evolução através da arte.
Do soul ao hip-hop, Nelsão é um marco brasileiro, sempre presente de maneira radical e sóbria, com seu estilo irreverente, uma cria do mais autêntico espírito funk, mas com brasileiríssimos trejeitos e sotaque nordestinos. Paralelamente, pretendo traçar um breve histórico desse cenário cultural alternativo, desde os bailes black dos anos 1970 até a eclosão do break na década de 1980 e os shows de rap das duas décadas seguintes. E o Nelsão foi um dos protagonistas dessa trajetória. Ou seja: não tenho como separar uma história da outra.
Mas a história do Nelsão, em si, é um exemplo que precisa ser registrado e perpetuado. Nesta fase inicial de pesquisas e entrevistas para fazer o livro, cada vez que eu converso com o Nelsão volto para casa com mais perguntas do que respostas.
O cara tem uma personalidade fascinante e é um incrível artista, que, além de dançar como um discípulo de James Brown, já compôs mais de 200 músicas muito ecléticas e poemas que pouquíssima gente conhece - mas vai conhecer com o livro.
Além de tudo, Nelsão tem dois filhos incríveis, é uma pessoa muito simples e tem o que é mais importante e deve ter sido fundamental para alçá-lo à condição de "um dos pais" do hip-hop brasileiro: ele transmite verdade no olhar. Não é sujeito corrompível, é cabra-macho pernambucano, mas com a sensibilidade do soul. Tem o espírito revolucionário do rap, mas com a ginga do funk. E, enquanto mantém os pés no chão, está com a cabeça no universo. Ele anda descalço na grama e usa internet. Ele ama a natureza e faz sua parte plantando árvores, mesmo morando na floresta de concreto e aço que é São Paulo. Ele já cansou de peitar a polícia em nome da liberdade de poder dançar nas ruas, mas faz poesia para pássaros e abelhas em homenagem à liberdade que elas inspiram. Ele é o matuto simples de Triunfo (Pernambuco) que, depois de a Alemanha ter conhecido, em 2006, pediu para que voltasse. Ele é um camaleão da cultura alternativa e de resistência, que se manifesta de diversas formas, mas com uma única e sincera essência.
- Esse é o Nelsão Triunfo que as pessoas conhecerão com o livro: o matuto, o mano, o pai, o marido, o líder, o artista, o ativista, o b-boy, o MC e, acima de tudo, o ser humano!
Bela empreitada, Gilberto. Sou um dos que nada sabia sobre Nelson Triunfo. Tal biografia, escrita por alguém tão talentoso, certamente será uma obra-prima, principalmente sendo escrita com tanta paixão.
ResponderExcluirBela empreitada, Gilberto. Sou um dos que nada sabiam sobre Nelson Triunfo. Tal biografia, escrita por alguém tão talentoso, certamente será uma obra-prima, principalmente sendo escrita com tanta paixão.
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